De 'máquina do tempo' a política fiscal verde: Unicamp mapeia pesquisas sobre mudanças climáticas como preparação para COP30
23/10/2025
(Foto: Reprodução) À esquerda, Paulo Cesar Montagner, reitor da Unicamp; à direita, Roberto Donato, coordenador da Delegação Unicamp na COP30.
Divulgação/Unicamp
A Unicamp possui entre 35 e 40 pesquisas em andamento que buscam entender e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O levantamento preliminar - que reúne estudos que vão desde meteorologia e florestas até saúde e artes cênicas - faz parte de um mapeamento preparatório para a COP30. A Unicamp enviará uma delegação à conferência.
🔎A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) ocorre entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA). Este é o terceiro ano que a Unicamp participa do evento, com uma equipe que envolve representantes institucionais e acadêmicos da universidade.
Vinte e oito estudos foram apresentados no 1º Fórum Unicamp de Mudanças Climáticas, realizado entre segunda (20) e terça-feira (21). Um dos objetivos do evento foi organizar as últimas pesquisas feitas por docentes e preparar a delegação que representará a universidade na conferência.
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De acordo com professor do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (Nepam) Roberto Donato, que coordena a Delegação Unicamp na COP, a partir do fórum será consolidar o mapeamento de quais pesquisas "podem contribuir para a formulação de políticas públicas relacionadas ao clima e levar isso para as discussões da COP".
Mapeamento de pesquisas
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Segundo o meteorologista do Cepagri David Lapola, um dos organizadores do fórum, o levantamento identificou entre 35 e 40 pesquisas conduzidas por docentes e pesquisadores da universidade e apresentou as 28 que foram divididas em seis grandes áreas:
Bases físicas da mudança climática;
Florestas, oceano e biodiversidade;
Energia e tecnologia;
Justiça climática, movimentos sociais, perdas e danos;
Adaptação, cidades e agricultura;
Governança climática e comunicação;
O professor destacou a diversidade dos trabalhos, que vão desde meteorologia e florestas até saúde e artes cênicas, e destacou a importância de organizar a comunidade acadêmica.
"A última vez que se tinha feito uma iniciativa similar a essa, focada em mudanças climáticas, foi 21 anos atrás", destacou o pesquisador.
AmazonFACE, a máquina do tempo
AmazonFACE, experimento, gás carbônico, Amazônia, Manaus
Maria Clara Ferreira Guimarães/AmazonFACE
David Lapola também é coordenador científico do projeto AmazonFACE (acrônimo para free air CO₂ enrichment, em inglês, ou enriquecimento de CO₂ ao ar livre). O experimento inédito é conduzido por pesquisadores da Unicamp, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o governo britânico, e deve durar pelo menos uma década.
O apelido "máquina do tempo" se dá porque o experimento tenta simular, em meio à floresta (a cerca de 100 quilômetros de Manaus), as emissões de carbono previstas para 2050. A ideia é tentar prever como a floresta se comporta diante de cenários de aumento da emissão de carbono na atmosfera.
De acordo com Donato, trata-se da pesquisa "com maior fôlego, maior visibilidade, com uma contribuição mais direta às discussões que vão acontecer na COP30".
"Esse projeto mostra a capacidade do Brasil de contribuir significativamente para as discussões do núcleo da discussão climática da COP. O AmazonFACE pode acelerar cenários e tendências que podem contribuir para a melhoria ou para o avanço das negociações", explica Donato.
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Política fiscal verde
Na área de economia, uma das pesquisas de destaque é coordenada por Mariana Reis, pesquisadora do Grupo de Estudos de Macroeconomia Aplicada (GEMAP) do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. O estudo se concentra na política fiscal verde como ferramenta para acelerar a transformação ecológica e a transição energética.
A motivação central da pesquisadora é o desafio de acelerar a transição energética para cumprir as metas de descarbonização definidas pela ciência. Mariana Reis destaca a existência de uma lacuna de financiamento (climate finance gap ou green finance gap) entre o que é necessário e o que está sendo investido nessa transição.
A pesquisadora propõe uma sofisticada modelagem de políticas de taxação de combustíveis fósseis e incentiva a aplicação de subsídios para infraestrutura energética verde. No entanto, o trabalho também prevê que, mesmo no melhor cenário de combinação de políticas fiscais testado, o modelo projeta uma temperatura média superior a 3ºC ao final do período (2100).
Isso indica que a solução não virá apenas do mercado ou de mecanismos isolados, e que somente subsídios ou taxas não são suficientes, sendo necessária uma integração política muito mais ampla para lidar com a magnitude das transformações.
Distrito 'sustentável' em Campinas
Outro projeto de destaque, que irá procurar financiamento na COP30, é a criação do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). Trata-se da construção de um distrito de inovação e sustentabilidade em Campinas na região que engloba Unicamp, PUC-Campinas, Facamp, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o acelerador de partículas Sirius, entre outros equipamentos.
O objetivo é que o distrito se torne modelo para a transição ecológica brasileira, possibilitando acelerar desenvolvimento econômico aliado a políticas de sustentabilidade e política climática.
"Nós teremos uma espécie de laboratório vivo de articulação entre universidade e sociedade civil, para mostrar que modelos podem ser favoráveis à construção da sustentabilidade", explica o coordenador.
O plano de uso e ocupação do espaço está em fase de implantação e prevê:
corredor ecológico;
vila das Startups;
fazenda agrovoltaica (produção de energia fotovoltaica, com produção agrícola embaixo das placas);
áreas de caminhabilidade, uso social e campos experimentais.
➡️Na noite desta quarta-feira (22), a Câmara de Campinas aprovou, em definitivo, o projeto de lei que cria o Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS), no distrito de Barão Geraldo. O novo zoneamento inclui HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) da Unicamp, com mais de 11 milhões de m², incluindo a Fazenda Argentina.
Perímetro do Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS) de Barão Geraldo
Prefeitura de Campinas
Próximos passos
Além da formulação de um relatório com o mapeamento das pesquisas, o fórum teve como resultados:
a formalização da criação de um grupo institucional focado em mudanças climáticas dentro da Universidade;
a ideia de realizar uma conferência sobre mudanças climáticas em 2026, envolvendo representantes de outras universidades, associações e poder público.
“Queremos que o próximo evento também envolva gestores e tomadores de decisão. Campinas ainda está estagnada em ações de mitigação. Nossa matriz de emissões é dominada pelo transporte, e precisamos discutir soluções concretas", argumenta Lapola.
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