Justiça nega pela 3ª vez pedido de prisão de PMs que mataram estudante de medicina em SP
27/10/2025
(Foto: Reprodução) PM que matou estudante de medicina em SP contou versões diferentes do crime
A Justiça de São Paulo negou pela 3ª vez o pedido de prisão preventiva contra os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado que mataram o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta.
O caso ocorreu na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, em novembro de 2024. A confusão começou quando Marco Aurélio deu um tapa no retrovisor de uma viatura e correu para dentro de um hotel, onde estava hospedado. Ele foi morto com um tiro à queima-roupa (leia mais abaixo).
Recentemente, o g1 teve acesso às imagens das câmeras corporais que registraram toda a ação, inclusive o PM Guilherme contando duas versões contraditórias do crime aos colegas antes de o caso ser registrado na delegacia (veja acima).
Conforme divulgado pelo g1, os bombeiros também levaram Marco Aurélio ao Hospital Ipiranga — que sabiam estar com a emergência fechada por conta da superlotação, segundo a ficha de atendimento médica.
Para a juíza Luciana Menezes Scorza, não há necessidade de prendê-los antes do júri: "não há fato novo a ensejar a decretação da custódia cautelar dos denunciados". O advogado Pedro Medeiros Muniz, que representa a família do estudante, informou que vai recorrer da decisão.
Estudante de Medicina Marco Aurélio e o pai
Reprodução/Arquivo pessoal
A magistrada ainda negou o pedido de monitoramento por tornozeleira eletrônica, já que "não há notícia nos autos de que os denunciados estejam descumprindo qualquer das medidas cautelares impostas".
O pai de Marco Aurélio, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, lamentou a decisão e compartilhou uma carta aberta enviada à juíza.
"Marco Aurélio desde as estrelas onde estiver me acompanhará na minha luta, ele será meu conforto e inspiração, secará as minhas lágrimas e me dará força quando estiver ferido de morte como agora, desta vez pela sua causa. Sra. juíza, você sempre esteve em condições de exercer a sagrada justiça e conforto para a família da vítima, porém você preferiu perpetuar nossa tragédia", escreveu o médico.
LEIA TAMBÉM:
PM que matou estudante de medicina em SP deu versões diferentes do crime antes de registrar boletim de ocorrência
Quem era o estudante de medicina morto pela PM em hotel da Zona Sul de SP
Hospital com emergência fechada
Bombeiros levaram estudante baleado por PM para hospital com emergência fechada
O jovem foi levado ao Hospital Ipiranga, que fica a cerca de 5 km da cena do crime. Antes de ser submetido a cirurgia, ele sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e morreu.
Na ficha de atendimento, de 13 páginas, consta uma intercorrência: "emergência fechada em razão de superlotação e indisponibilidade de tomógrafo (inoperante há uma semana)".
O documento também registra que o Núcleo Interno de Regulação (NIR) havia informado todas as equipes sobre a situação, mas que “a equipe de bombeiros trouxe [a vítima] mesmo sabendo da superlotação e ausência de tomógrafo”.
Trecho da ficha de atendimento de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante morto pela PM.
Reprodução
O tomógrafo — aparelho de diagnóstico por imagem que usa raios-x e computadores para gerar imagens internas do corpo — seria fundamental para localizar o projétil que perfurou o estudante.
🔎 O que é NIR? É um setor do hospital responsável por gerenciar o fluxo de pacientes e recursos, incluindo a capacidade cirúrgica do pronto-socorro. O núcleo funciona 24 horas e é responsável por emitir alerta a outras unidades no caso de intercorrências.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que "o atendimento à vítima foi realizado respeitando integralmente os protocolos de emergência".
"O jovem foi encaminhado prontamente ao Hospital Ipiranga, após contato com o médico regulador que atua no Copom. Esse profissional acompanha, em tempo real, a disponibilidade hospitalar, incluindo leitos, equipamentos e especialidades médicas, garantindo que a vítima seja levada ao local mais adequado para o atendimento."
Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina morto pela PM em SP
Reprodução/Instagram
Relembre o caso
Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial na madrugada de 20 de outubro de 2024, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo. Ele tinha 22 anos e estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
A confusão começou quando o estudante deu um tapa no retrovisor da viatura dos PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado e correu para o interior de um hotel, onde ele estava hospedado com uma mulher.
A ação foi registrada por uma câmera de segurança. Nas imagens, é possível ver que o jovem entrou no saguão do hotel sem camisa e foi perseguido pelos policiais. Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão.
Durante a confusão, o PM Guilherme atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno.
Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para cá há mais de duas décadas. Segundo a mãe, a intensivista Silvia Mônica, o rapaz nasceu prematuramente e concluiu o ensino médio com apenas 15 anos.