PM que matou mulher de quem alugava chácara é condenado a 16 anos de prisão em Limeira
23/10/2025
(Foto: Reprodução) Wilson Alves de Menezes, policial militar acusado de matar proprietária de chácara alugada por ele a facadas
Reprodução/EPTV
O policial militar Wilson Alves de Menezes foi condenado à pena de 16 anos e 8 meses de prisão, em regime fechado, por matar Marizete Fernandes do Nascimento esfaqueada e deixar a filha dela ferida, em 29 de abril de 2024. A condenação ocorreu em júri popular realizado nesta quarta-feira (22).
O réu alugava uma chácara da vítima e está preso desde a época do crime. A defesa dele informou que vai recorrer.
O crime aconteceu em um imóvel localizado na Estrada Alcídia Scomparim, no Condomínio dos Tucanos, por volta das 17h52. Em depoimento, testemunhas relataram que houve uma discussão entre os envolvidos porque Marizete entrou na chácara que alugava para o PM para carpir.
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A filha dela relatou em depoimento que, ao chegar no local, o policial pegou uma enxada e uma faca e partiu em direção às duas, esfaqueando ambas. Marizete foi atingida nas costas e abdômen e morreu no local e a filha foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), sangrando na região do tórax.
Segundo a Polícia Militar, o acusado se entregou no local do crime, e foram localizados uma faca com vestígios de sangue e um pedaço de pau com um metro dentro da chácara. Wilson alegou que foi agredido com uma enxada pela dona do imóvel e reagiu - leia no final da reportagem o que diz a defesa dele.
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Vítima pediu para PM deixar imóvel
A EPTV, afiliada da TV Globo, apurou com familiares da vítima e com a Polícia Civil que a casa onde o PM morava com a esposa e três filhos menores de idade foi alugada por eles em agosto de 2023.
Segundo a Polícia Civil, o PM já tinha histórico de desavenças com a dona do imóvel. Parentes relataram que nos oito meses anteriores ao crime, Marizete chegou a pedir para o policial deixar o local, mas isso não aconteceu.
Os pedidos de Marizete para que o policial mantivesse o quintal limpo também não seriam atendidos. Na segunda-feira, a proprietária foi até o local com a filha durante a manhã para cortar o mato e retornou por volta das 16h para concluir os trabalhos, quando houve o desentendimento e as agressões.
Para o MP, ação foi premeditada
A acusação denunciou o réu com duas qualificadoras, que são fatores que podem aumentar a pena, caso ele seja condenado:
Motivo fútil: pelo crime ter sido praticado após discussões a respeito da limpeza que as vítimas fizeram, após entraram no imóvel que era alugado pelo PM.
Recurso que dificultou a defesa das vítimas: para o Ministério Público, houve premeditação da ação pelo PM, que pegou uma faca para agredir as vítimas, que não esperavam o ataque. Além disso, a Promotoria observa que ele é policial militar e mais forte que as vítimas.
Entenda a sentença
No júri do acusado, os jurados reconheceram, pela maioria de votos, a materialidade e a autoria do homicídio e da tentativa de homicídio.
Quanto à morte de Marizete, reconheceram que o crime foi praticado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima. Já quanto à filha, não acolheram as qualificadoras.
Ao definir a pena e o regime de cumprimento dela, o juiz Fábio Augusto Paci Rocha, da 1ª Vara Criminal de Limeira, considerou diferentes fatores, como o fato do réu não ter antecedentes criminais, provocações e agressões anteriores, e a violência empregada pelo réu.
Foi negado ao acusado o direito de recorrer em liberdade.
Marizete Fernandes do Nascimento, morta a facadas por inquilino policial militar em Limeira (SP)
Reprodução/EPTV
Para defesa, condenação é contrária às provas
Em nota ao g1, o advogado do réu, Marcelo Rodrigues da Silva Torricelli, apresentou condolências as familiares das vítimas, mas informou que vai recorrer porque a condenação é "injusta e contrária à prova dos autos". Ele afirmou que o Conselho de Sentença reconheceu que Wilson agiu sob violenta emoção após uma injusta provocação.
E apontou que as qualificadoras foram afastadas no crime contra uma das vítimas e consideradas quanto à outra, apesar dos fatos terem ocorrido no mesmo contexto. Para ele, se trata de uma divergência que revela "incoerência lógica e contradição interna que torna o julgamento absolutamente incongruente e passível de recurso".
O defensor também destacou que a ação foi praticada dentro da residência do PM, e que não havia autorização dele para entrada das vítimas no local, após histórico de provocações injustas feitas pela filha de Marizete.
Viatura da Polícia Militar no local do crime
Gustavo Biano/ EPTV
"Ele reagiu, não planejou. Reagiu porque se sentiu invadido em sua casa", argumentou Torricelli.
O advogado também afirmou que Wilson não tem antecedentes criminais e apresenta histórico exemplar ao longo de 18 anos de carreira na Polícia Militar.
"Foi surpreendido por uma sequência de conflitos provocados pelas vítimas, que eram suas vizinhas. A decisão condena um pai de três filhos pequenos, reconhecido por seus pares e superiores como profissional íntegro, que apenas buscava proteger seu lar e se defender de injusta agressão (que foi comprovada – agressão provocada por um golpe de enxada no braço). O episódio foi uma fatalidade precipitada por inúmeras provocações", acrescentou.
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