‘Tenho medo de ser preso', diz juiz aposentado denunciado por atropelar e matar ciclista em Araçatuba

  • 14/11/2025
Entrevista com juiz aposentado denunciado por atropelar e matar ciclista em Araçatuba O juiz aposentado, denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso com recurso que dificultou a defesa da vítima pela morte da ciclista Thais Bonatti, no dia 24 de julho, em Araçatuba (SP), falou pela primeira vez com a imprensa nesta sexta-feira (14) e disse ter medo de ser preso. Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior, de 61 anos, concedeu entrevista ao repórter Vitor Moretti e ao produtor Márcio Zeni, da TV TEM. 📲 Participe do canal do g1 Rio Preto e Araçatuba no WhatsApp Tanto o juiz aposentado quanto a garota de programa, que estava com ele na caminhonete, foram denunciados pelo promotor de justiça Adelmo Pinho, na quinta-feira (13). Fernando diz que não estava embriagado quando atropelou a ciclista e nega ter mantido relação sexual com a garota de programa antes da atingir a vítima. Assista ao vídeo acima. Confira abaixo os detalhes da entrevista: Thaís Bonatti (à esquerda) e juiz aposentado, Fernando Augusto Rodrigues Junior (à direita); envolvidos em caso de atropelamento em Araçatuba (SP) Arquivo pessoal TV TEM: Como o senhor recebe essa acusação? Juiz: “Olha, em primeiro lugar, não é verdade que eu ingeri toda essa quantidade de bebida. Pelo que lembro da cronologia — porque depois eu apaguei — e segundo as pessoas que estavam lá, eu acabei dormindo por várias horas. Eu cheguei por volta de dez, onze horas da noite, e tomei duas cervejas dessas long neck e dois shots de tequila. A partir desse momento, eu me lembro… mas depois disso tudo apaga pra mim depois desse momento. Eu penso que, a partir da meia-noite, eu já estava apagado. Quer dizer: não sei se estava apagado ou não estava mais com a lembrança do que fazia.” A vítima, de 30 anos, ia para o trabalho quando foi atropelada na rotatória da Avenida Waldemar Alves pelo juiz Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior, de 61 anos. O atropelamento ocorreu depois que o juiz aposentado saiu de uma boate, com a garota de programa, onde consumiu bebida alcoólica. Para o MP, desde o início, os dois assumiram o risco de causar a morta da ciclista, já que o juiz permaneceu por aproximadamente dez horas seguidas na boate, fazendo a ingestão de bebida alcoólica e, depois, ingeriu medicamento para depressão, que potencializou o efeito do álcool. TV TEM: E os medicamentos? O senhor chegou a beber os medicamentos para depressão? Juiz: “Os medicamentos… eu tenho uma cronologia. Sou bem organizado nisso, separo tudo certinho. E aqueles medicamentos eu havia ingerido durante o dia. No momento em que fui à boate, eu não estava de posse de nenhum medicamento, e nem tinha medicamento lá. Tanto que, depois, com a prisão que houve, eu só fui tomar esses medicamentos praticamente dois dias depois. Então, no momento em que eu estava lá, eu não ingeri nenhum medicamento.” Juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior em Araçatuba (SP) Reprodução / TV TEM TV TEM: Nas bulas desses medicamentos consta que, com álcool, eles potencializam os efeitos. O senhor sabia disso? Juiz: “Olha, ninguém lê bula de medicamento — senão ninguém tomaria. Eu já tomo esses medicamentos há muito tempo, mas andei pesquisando e vi que não é uma verdade científica que eles potencializam os efeitos do álcool. Primeiro: eu não tomei esses medicamentos lá. Segundo: não é verdade que esses medicamentos potencializam os efeitos do álcool. Os efeitos do álcool são a pessoa ficar mais alegre, mais violenta, deprimida e tal. Esses efeitos não foram potencializados porque, além de eu não ter tomado os medicamentos, eles não provocam isso." TV TEM: O senhor disse que ficou na boate e depois teria dormido, e aí não tem lembrança. Aí, no dia do atropelamento, o senhor acorda. Do que o senhor se recorda desse momento até entrar na caminhonete com a Carolina? Tem uma imagem de câmera de segurança em que o senhor conversa com algumas pessoas. O que o senhor lembra desse episódio? Juiz: “Olha, eu não lembro onde eu dormi e nem como fui acordado. Não tenho essa lembrança. A lembrança que eu começo a ter é de que estava na caminhonete e fui levar a Carolina pra casa dela. Nesse momento em que eu estava na caminhonete, eu não lembro de nenhuma pessoa falar pra mim: “Você não está em condições”, ou me alertar qualquer coisa desse tipo. Eu só sei que… não sei como acordei, e depois o que eu me lembro é que já estava na caminhonete.” Para o MP, a culpa fica mais evidente pelo fato do juiz e da garota de programa tentarem manter relação sexual dentro do veículo em movimento, em plena luz do dia, pouco antes do atropelamento. Além disso, ele seguiu pela contramão em uma rua, antes de acessar a avenida e atingir Thais. TV TEM: E o senhor tinha condições para dirigir? Juiz: “Na minha impressão, não havia nada que modificasse os meus sentidos alí naquele momento. Então, na minha opinião, na minha consciência, eu tinha condições pra dirigir.” TV TEM: O senhor, depois que sai da boate, quase provoca um acidente com uma moto. O senhor lembra também desse momento? Juiz: “Não me lembro desse momento. Mas depois eu vi na imagem que eu me precipito bem devagar e que tem uma moto que passa e olha. Mas, de lembrança, eu não lembro desse momento. Eu lembro de ter visto o filme que consta do inquérito.” MP denuncia juiz aposentado e garota de programa por homicídio doloso TV TEM: Doutor, o senhor estava embriagado no momento em que pegou a caminhonete? Juiz: “Na minha impressão, eu não estava embriagado.” TV TEM: E por que o senhor recusou o teste do bafômetro? Juiz: “Essa questão de recusar o teste do bafômetro é uma circunstância que eu me reservo a discutir dentro do processo. Porque há uma divergência — inclusive no meu interrogatório eu digo que não recusei o bafômetro. Também não recusei qualquer outro tipo de exame. Eu poderia ter me recusado até ao exame clínico, mas me submeti ao exame clínico. E, se tivessem feito outras solicitações, eu teria feito os exames necessários. E também eu não estava com nenhum sintoma de que tivesse ingerido tantas bebidas. Porque, se eu tivesse misturado todas essas bebidas, eu estaria com o meu estômago ruim, vomitando e tal. Mas não: eu estava ali em pé e conversando com as pessoas que estavam ali.” TV TEM: O exame clínico que o senhor menciona, feito no IML, o médico atesta que o senhor estaria embriagado e alcoolizado. O que o senhor tem a dizer sobre isso? Juiz: “Olha, o exame clínico vai ser contestado em alguns pontos, porque existem técnicas pra verificar certas coisas. E, naquele momento, o que eu me lembro do exame clínico, é que ele me pediu para fazer o “quatro”. Eu fiz o “quatro”, com as duas pernas, sem qualquer desequilíbrio. Depois, ele pediu que eu colocasse o dedo no nariz; eu coloquei o dedo no nariz e tal, fiz todos os testes que ele solicitou. Não me lembro dele sequer ter chegado perto da minha pessoa. Depois ele falou “está bom” e foi embora. E teve um fato relevante também que eu anoto: que meu advogado pediu para assistir ao exame clínico e foi negada a permanência dele como assistente naquele exame.” Thais Bonatti estava indo para o trabalho de bicicleta, quando foi atingida pelo carro na contramão. Reprodução TV TEM: Bom, o senhor menciona que tinha condições de estar dirigindo naquele momento. Então, como o senhor explica o atropelamento, já que, segundo a perícia que foi feita no local, não havia marcas de frenagem no asfalto? O senhor não viu a ciclista? O que aconteceu? Juiz: “Bom, primeiro: eu não vi a ciclista. Se você me falasse assim: "de onde ela veio; de onde ela não veio; por onde ela surgiu; se estava na sua frente", eu não vi essa pessoa. Se ela estivesse na frente, eu teria freado, teria desviado, teria feito qualquer tipo de manobra. Mas não vi absolutamente. O que eu posso fazer são suposições, com base nos levantamentos e nos vídeos e depoimentos de testemunhas que inclusive dizem, que ela veio pela esquerda. A gente sabe que, pela esquerda, há pontos cegos e também existe a aspecto de o ciclista estar no bordo da pista, então, não na sua frente. Para que eu fale alguma coisa é precipitado e quem tem que falar são as outras provas. Porque eu mesmo não vi a essa ciclista se aproximar e sequer vi o impacto dela com o veículo.” TV TEM: A mulher que estava com você dentro do carro não teria alertado o senhor em nenhum momento? Juiz: “Eu não me lembro dessa conversa. E, alertado especificamente como “olha, bicicleta”... Isso eu acredito que ela também não viu essa aproximação. Porque senão ela teria me alertado.” TV TEM: Segundo a denúncia ainda do Ministério Público, o senhor teria tentado manter relações sexuais com a garota de programa com a caminhonete em movimento. Inclusive, na denúncia constam imagens das câmeras de segurança do supermercado. O senhor tentou manter relações sexuais com a Carolina? Ela sentou no colo do senhor? Juiz: “Olha, isso eu acho fantasioso. Acho fantasioso e criado a partir de uma imagem que não revela absolutamente nada. Então isso é como se acende uma pólvora e vai caminhando para outros lados. Em absoluto, ela não estava no meu colo. É até ilógico — uma pessoa da minha idade, dizendo como tinham dito aí, eu tomei tanta bebida durante dez horas, era para eu estar com coma alcoólico. Então é ilógico dizer que eu estaria mantendo relações sexuais com ela.” TV TEM: Então, em nenhum momento o senhor tentou — ou ela tentou — manter relações sexuais dentro da caminhonete? Juiz: “Em nenhum momento.” Conforme consta no processo, o promotor menciona que o juiz é conhecedor das leis e escreveu: “Ele agiu, assim, como um descivilizado". TV TEM: Na denúncia, o promotor se refere ao senhor como um conhecedor das leis e, em determinado trecho, o classifica como uma pessoa “descivilizada”, diante das condutas imputadas. O senhor se arrepende de alguma coisa do que aconteceu? Juiz: “Eu me arrependo — até já disse em outro momento — de ter saído de casa. Eu devia ter ficado em casa nesse dia. Eu me arrependo de ter saído de casa. Agora… me chamar de “descivilizado” ou outras coisas mais, adjetivos, isso na minha opinião, não cabem em uma peça técnica.” À época do atropelamento, Fernando foi preso, mas liberado após o pagamento de fiança de R$ 40 mil. Câmera flagra juiz e garota de programa em carro, próximo a ciclista Thaís Bonatti, antes de batida, em Araçatuba (SP) Reprodução/Câmera de segurança TV TEM: Doutor, o senhor tem medo de ser preso novamente, em algum momento, durante o processo? Juiz: “Olha, quem disser que não tem medo de ser preso está falando mentira. Ninguém quer ser preso. Então, se você fala: "Você tem medo de ser preso?" Eu tenho medo de ser preso sim!” TV TEM: Mas o senhor tem noção do ocorrido? Uma vida que foi perdida ali. O senhor tem essa dimensão do que aconteceu? Juiz: “Lógico. Lamento a perda da vida da Thaís Bonatti, que teria toda a vida pela frente, uma pessoa jovem. Trocaria a minha vida pela dela, e sei que nada pode ser feito para confortar a família por essa perda. Lamento profundamente.” TV TEM: O senhor sempre fez uso de bebida alcoólica socialmente, moderadamente? E de outras substâncias também? Juiz: “Não. Nunca usei outras substâncias tóxicas ou proibidas. Bebidas alcoólicas eu sempre tomei de maneira social, em festas. Não tenho o costume de beber em casa. É completamente eventual o uso da bebida.” Juiz é flagrado conversando com um homem antes de assumir a direção em Araçatuba (SP) Reprodução / Câmera de Segurança VÍDEOS: confira as reportagens da TV TEM Veja mais notícias da região em g1 Rio Preto e Araçatuba

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2025/11/14/tenho-medo-de-ser-preso-diz-juiz-aposentado-denunciado-por-atropelar-e-matar-ciclista-em-aracatuba.ghtml


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